Administrado por Dom Vito Alberti Lavezzo e Dona Kate Alberti Rossetti, arquivistas do Vaticano.

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Carta Pastoral - Pastores Dabo Vobis


CARTA PASTORAL
PASTORES DABO VOBIS
DE SUA SANTIDADE
PAULO II
AO EPISCOPADO
AO CLERO E AOS FIÉIS
SOBRE O SACERDÓCIO DA IGREJA

           1.''Dar-vos-ei pastores segundo o Meu coração (Jer 3, 15). Com estas palavras do profeta Jeremias, Deus promete ao seu povo que jamais o deixará privado de pastores que o reúnam e guiem''(São João Paulo II).

               2. Em Junho do ano passado, o Papa Pio VI convocou o VIII Sínodo Extraordinário dos Bispos para tratar sobre a formação sacerdotal, que resultou na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Sacerdotis Altissimi onde apresentou-se a forma que aqueles padres sinodais acharam mais frutuosa de formar os presbíteros da Igreja. É preciso que haja entre o nosso clero uma nova leitura e uma aplicação constante desta Exortação Apostólica que ainda quer trazer inúmeros frutos para a Igreja.

               3. Mas, não apenas o âmbito da formação dentro dos seminários deve ser olhado. A realidade dos seminários é uma das prioridades deste pontificado, e, com certeza, de toda a Igreja. Necessita-se ter um olhar voltado, também, aos já formados no seminário, os presbíteros da Igreja, que receberam as ordenações e agora vivem a vida presbiteral.

            4.  O Ministério Sacerdotal deve brotar do coração do Pai, pois, um sacerdócio que não se configura no coração amoroso de Deus, está condenado a ruínas. O sacerdócio que brota do coração do Pai não tem medo de se doar, e se doa na gratuidade, na alegria, pois encontra em sua doação uma configuração cada vez mais perfeita com o coração de Deus, sobretudo, vê em sí a imagem do Cristo, que doou-se totalmente pela humanidade.

             5. ''Meu Servo, o Justo, fará justos inúmeros homens, carregando sobre si suas culpas. Por isso, compartilharei com ele multidões e ele repartirá suas riquezas com os valentes seguidores, pois entregou o corpo à morte, sendo contado como um malfeitor; ele, na verdade, resgatava o pecado de todos e intercedia em favor dos pecadores'' (Is, 53). Cristo foi servo que se entregou, assim se faz exemplo ao ministério sacerdotal. Aqueles que querem fazer-se sacerdotes, membros do ministério do Sumo Sacerdócio do Cristo, são considerados os valentes seguidores que recebem as riquezas compartilhadas pelo Pai. Assim, os sacerdotes recebem toda a glória, mas a recebem não nesta vida.

               6. É um erro, que se torna cada vez mais comum em alguns sacerdotes, o ardente desejo pelo ministério episcopal, que é visto como um prêmio. Situações surpreendentes são vividas devido a estes sacerdotes. Mas, há sacerdotes que não querem o episcopado simplesmente pela glória, e sim, o desejam pelo serviço. Isto se dá por que inúmeros sacerdotes não compreendem o ministério sacerdotal e as grandiosas obras que podem fazer como presbíteros, sem o episcopado.

              7. Dentro das Igrejas Particulares, os presbíteros tem a função especial de apascentar o povo de Deus, distribuindo os sacramentos, oficiando como párocos, vigários, capelães. Os presbíteros devem reencontrar dentro de sí este seu papel de fiéis colaboradores do ministério do Cristo, de homens que se doam pelo nosso Senhor, pela causa do reino. Quando os presbíteros reencontram dentro de sí estes papéis, estas missões, reencontram também o verdadeiro sentido da vocação que abraçaram, que não é uma carreira onde eleva-se de cargos a todo custo, mas sim, é a vocação do Bom Pastor, que dá a vida pelas ovelhas.

            8. Não apenas os bispos estão chamados a serem bons pastores no meio do povo de Deus. O presbíteros tem este chamado de forma toda especial, pois não tem tantas obrigações administrativas, mas devem, sobretudo estes, ir ao encontro das ovelhas que estão perdidas. Esta é uma das promessas de suas ordenações; serem fiéis colaboradores do Episcopado. Aliás, nenhum bispo é bispo sozinho, conta com a colaboração do seu presbitério para realizar a sua missão.

             9. Os presbíteros que compreendem verdadeiramente o seu ministério irão confirma-lo e imitar o que celebram. Assim eles deixam a infelicidade, a insatisfação, e passam a viver seu compromisso com alegria radiante, e esta se torna serviço bem feito e pastoralidade viva.

            10. Não apenas o que foi aqui elencado fará o presbítero compreender sempre e cada vez mais profundamente o seu chamado. O presbítero deve ter a atenção de seu bispo e daqueles que o formaram, pois reconhecerá nestes um exemplo a ser seguido. Quando os presbíteros procuram os membros do episcopado devem ser respondidos de forma paternal e lhes dada uma atenção total. As vezes, na correria do dia-a-dia, nos esquecemos daqueles que necessitam de nossa atenção especial, e estes são os presbíteros, que muitas vezes se desanimam por não encontrarem afeto, atenção e motivação. Por isso, os bispos confiem funções especiais aos presbíteros que se mostrarem mais ativos, sobretudo no cuidado de paróquias e na formação sacerdotal, para que, sempre motivados ao serviço, possam configurar-se ao coração do Pai, que os formou para o ministério.

            11. O Senhor nos chamou do profundo do seu coração para o ministério sacerdotal, aceitamos e fomos ordenados, agora não podemos olhar para trás, não podemos desistir, mas sim, devemos sempre olhar para frente, renovar as nossas motivações, o nosso compromisso, o nosso ministério, o sentido de nossa vocação, e, assim, configurarmo-nos cada vez mais ao coração chagado e amoroso que nos chamou, Ele que é manso e humilde.

         12. Que, pela intercessão da Virgem Maria, a cada dia possamos renovar o nosso compromisso, o nosso animo, sem medo de se doar totalmente a aquele não teve medo de se doar totalmente por nós, e o fez sofrendo a humilhação da condição humana e a morte de cruz que nós, seus sacerdotes, relembramos no altar.

Roma, I Vésperas do II Domingo do Advento, 13 de Janeiro do Ano Missionário de 2018, segundo de Nosso Pontificado.

+ Paulus Pp II
Servus Servorum Dei